terça-feira, 5 de junho de 2012

Ø

01

É, pois é, de tão louca que és, acabei enlouquecendo. Eu sinto falta do companheirismo, da pipoca dividida, dos 30minutos conversando besteira e até das músicas compartilhadas. Eu sinto falta de tanta coisa, que as vezes nem sei. Sinto falta das suas histórias doidas, dos seus sonhos, das suas loucuras. Acho que procurei tanto por tu que acabei me fechando e não conseguindo outra amizade como essa, ou não, que acabei não conseguindo achar outra louca como essa. Quero compartilhar as loucuras e entregar esse livro de Jim Morrison que só faz pegar poeira na prateleira. Porque não respondes meus e-mails? Será que se esconde de algo? De alguém? Enfim, espero que não leia. Beijos.

é, pois é.

O mundo é tão bonito, acho maravilhoso ver as pessoas felizes juntas, compartilhando momentos, ficaria feliz só em ve-las. Ficaria. Se eu soubesse o que é felicidade. De felicidade só sei a definição do dicionário ” sf (lat felicitate) 1 Estado de quem é feliz. 2 Ventura. 3 Bem-estar, contentamento”. De minha paixão por escrever arte com a luz, fotográfo pessoas felizes, apaixonadas, e não consigo entender, entender porque elas são assim, sempre sorridentes e de bem com a vida. Ao meu lado, não tenho ninguém pra compartilhar a felicidade, desde cedo fui muito só, não sei o porquê, pensei várias vezes que a causa seria a minha timidez, ou até mesmo o meu medo de machucar as pessoas, machucar o monstro que elas tem por dentro, e acabar ferindo-as por um longo tempo, e tenho mais medo ainda que esse longo tempo seja definido como sempre. O silêncio, que me persegue quase a tanto tempo quanto a solidão, fala alto, e as vezes até me dói os ouvidos... E o pior é que preciso de alguém pra calar esse silêncio. Notei que não conseguia fazê-lo sozinha, quando por duas ou três semanas tive um amigo, o encontrei mexendo na minha coleção de livros, de vista pensei que fosse um ladrão, logo após pensei que fosse um maníaco. Mas logo depois pensei que fosse algo da minha cabeça, depois vi que não estava pirando até que ele falou comigo, fiquei surpresa, não escuto alguém falando comigo há anos, uma voz desagradável aos ouvidos. Tentei falar algo, mas nada me veio em mente, me faltou voz em falar um oi, um singelo e estranho oi. Ensaiei tanto por esse momento, mas nunca me passou em mente que ele seria um bandido, um furtador profissional. Como diabos ele entrou no meu apartamento? Então, pensei o que uma pessoa normal faria, de modo que o chamei para a cafeteria. E assim minhas manhãs tomaram um novo rumo. Consegui sentir a solidão com ciúmes do novo amigo, as vezes senti o seu silêncio com um tom de inveja. Minha própria solidão me abandonou, agora permanece o sóbrio silêncio entre as quatro paredes desse quarto. Por várias vezes, perguntei ao meu novo amigo como ele se chamava, e nunca obtive resposta, até então me senti necessitada de chama-lo de algo, decidi que ninguém era um ótimo nome, gosto de paradoxos, afinal ele era alguém. Era. Após um bom tempo, percebi que ninguém era um bom nome para ele, porque realmente ninguém era ninguém, quer dizer, ele era a minha metade. Até que então, eu o matei, me senti só de mim, como se a minha metade estivesse entrando naquele caixão. Era um velório sóbrio, só existia a metade da minha pessoa e um coveiro de aparencia estranha. O matei sabendo que ele era imortal afinal, ele era o meu conto de fadas, a minha solidão em forma de pessoa. Carrego minha metade inerte.